terça-feira, setembro 30, 2003

Sites das Meninas (II)

O Elefante Branco e o Hipopótamo foram um dia passear pela cidade onde encontraram dois dinossauros a comer semáforos: cuidado! diz o Elefante Branco para o um dos dinos, não comas esse que ainda está verde!

A partir dai, amigos para sempre, os dinossauros passaram a ir a casa do Elefante Branco e do Hipopótamo, onde também iam muitas meninas.

Belas fadas, por sinal.

Sites das Meninas (I)

A blogosfera está cheia de meninas que escrevem lindamente. Sao umas lindas meninas a quem a potestade terrena concedeu o dom de escarafunchar ideias ao melhor estilo anos setenta, café itau, aos melhores conceitos expressos em o amor é ..., com muita Florbela Espanca (que não tem culpa nenhuma, coitada), ao lembrar nostálgico de mulherzinhas, de preferência já sem soutien debaixo da camisete e com idas ao meco, para a natureza actuar onde e como quiser.

Quem as topa bem é o grupo que escreve no Procuro Marido (julgavam que era uma dama a escrever ?, santa ingenuidade ), que também não poupa os meninos ...com bigode !

A Arte da Fuga

Passe a minha paixão por Bach, mesmo adormecida á sombra dos desejos de swing, a arte do post é a de retirar todas as penas e sofrimentos.

Como uma exorcização internetiana, fruto de uma inspiração de um padre eterno, nome fantástico (!) para um servidor, ou mesmo para um servo.

Cada palavra escrita é uma aspirina, um clonix, uma espécie de químico que alivia as dores, uma droga leve, que nada promete a não ser contemplação, alívio em penitência, espírito aliviado pela oração; subida em balão, mais parece, ou montanha russa, no alto do percurso.

Bach acreditava em Deus, Coltrane acreditava em cocaína.

Eu por enquanto acredito nesta espécie de redenção pela escrita, quase automática, que se faz ver depois de produzida. Volta-se a ler e classifica-se, podem dar-se estrelas, ao estilo negligé do critico de cinema.

Não pela qualidade da mesma, mas pela eficácia face ao estatuto exorcizante que lhe deu o autor, eu feito deus.

Mas também quem garante a eficácia da oração ? E não há estrelas no céu?


sábado, setembro 27, 2003

Imobilizado incorpóreo

- Parte de um activo que não mexe, se desvaloriza e que tem um corpo de anjo com emissões de frio e arrepios.
- Um espelho onde se vê a face sorridente de quem não sorri mais
- Um mar cinzento onde se vê uma silhueta que já só vive em memórias
- Um vidro partido onde se vê um lençol branco e um fantasma que ainda não sabe que não tem corpo.
- O espaço fechado onde passo os dias
- O espaço fechado onde passo outros dias mais longos, entre filósofos, jornais, copos facetados e cada vez menos sonhos.

Quando a desvalorização se concluir, gravem tudo em CD.



The colour purple

Quando hoje olhei para o rio, estava com pressa de sair, mas a cor detrás do horizonte levou um barco para o meu olhar, e escutei: nada, só as cores, artefactos fingidos. Se fosse isto uma carta, pareceria de despedida, e quando a cor purpura invadiu este horizonte era de uma despedida, ou muitas de que se tratava; não sei quem são as que escrevem a este modesto blog, mas as frase curtas de algumas, as frases tímidas e as frases de quem clama não se levar a sério, ou ainda as de quem contempla o meu dia a dia, sem que eu veja, são tristes amostras de quem não tem cores mais do que preto e branco.

caso o horizonte lhes pregue uma partida, vão buscar os óculos pretos para a cor púrpura ter o verdadeiro significado que conhecem: em branco.

quarta-feira, setembro 24, 2003

O que as mulheres querem (III)

Nádegas Redolentes ( Luis Fernando Verissimo, edição brasileira 2002)


Ela era irresistivel quando acordava. Tinha até um cheiro diferente, que desaparecia no resto do dia. Um cheiro morno. Cheiro de leite morno, era isso. Com um inexplicável toque de baunilha. Mas ela acordava de mau humor. Quente, cheirosa, apetitosa e emburrada. Nem deixava ele beijá-la na boca. "Eu ainda nem escovei os dentes!" E se ele tentasse beijar o seu umbigo (noz-moscada, possivelmente canela), ela dava-lhe um safanão.
Não eram só os cheiros. Ela acordava fisicamente diferente. A cara maravilhosamente inchada, a boca intumescida, como a de certas meninas de Renoir. No resto do dia ia alongando-se, modiglianizando-se, mas de manhã era uma camponesa compacta, com fantásticas olheiras roxas. Ele não sabia explicar. Ela era uma mulher delgada, de pernas compridas, mas de manhã tinha as pernas grossas. E ou ele muito se enganava ou até a bunda ela perdia, de dia. A bunda, as nádegas redolentes. "Mmmmmm... ervas aromáticas. Um quê de sândalo..."
- Pá-ra!

De noite era ela que insistia e o emburrado era ele. Ela tomava banho, botava uma camisola transparente e deitava-se ao lado dele, toda certinha, penteado perfeito. Ele não podia dizer que gostava mesmo era quando ela acordava com a camisola toda torta, com uma alça enroscada nas pernas, nas doces pernocas matinais. Ele ficava lendo, ela ficava esperando. Cheirando a sabonete e esperando. Tentava começar uma brincadeira, cutucando com o pé. Cantarolava no seu ouvido - "ele já não gosta mais de mim... que pena... que pe-e-ena..." Ele continuava lendo até que ela desistisse e dormisse. Ele não queria nada com aquela pessoa que virava as pestanas antes de ir para a cama. Queria era a camponesa da manhã. Sonhava com a sua camponesa irritada.

A tese dela era que, antes de escovar os dentes e tomar café uma pessoa não é uma pessoa, é uma coisa. E o desejo dele de possui-la antes de lavar os dentes comparava-o a uma tara, quase uma necrofilia. "Sai, sai!" E levantava-se, tentando encontrar as pontas da camisola, puxando uma alça do meio das pernas com fúria. Quando chegava à porta da casa de banho já era uma mulher comprida. E ele ficava cheirando o travesseiro ainda quente. Mmmmm... baunilha...decididamente baunilha.

Uma noite ela disse:
- Eu acho que você tem outra. Acho que você está pensando nela neste momento. Fingindo que lê e pensando nela. Diz que não !

Ele não disse que não. Estava pensando nela, de manhã. A sua outra, a sua inatingível outra, a das pernocas, a da baunilha. Mas ela não precisava se preocupar, pensou. Nunca seria enganada, a outra nada queria com ele.

- Apaga a luz, apaga.

Ele suspirou, apagou a luz. Enquanto faziam amor, ele tentava imaginar que ela era a outra.

Mas o cheiro do sabonete atrapalhava.



terça-feira, setembro 23, 2003

O que as mulheres querem (II)

Você tem o sexo na cabeça, mas aí decididamente não é o lugar dele (Mae West)
Esta é a inversa que algumas mulheres dizem, esquecendo que elas proprias o propoem ...

O que as mulheres querem (I)

O filme com este título era acerca de um tipo que conseguia ouvir as mulheres. Literalmente um voyeur que não via, ouvia. Lamentavelmente, deixou de as ouvir, mostrou o seu lado feminino e casou para o happy ending final.

Estas oportunidades não se perdem, e eu que não ouço as mulheres a não ser que elas queiram, tenho acabado por ouvir o que, caso estivesse escondido e à escuta, decerto não entenderia.

Dizem elas que
conseguem o amor (que elas dizem querer, mas não acredito) sem que o sexo tenha para aí nada a dizer, ou seja, o velho mito do amor platónico atrás das grades, ou atrás da janela, ou atrás do casamento seria a grande motivação, enquanto a fornicação desenfreada que caracterizaria o que os homens querem nada lhes diz.

Em versão mais ousada, que conheço, avança a espécie oposta que agora sim, a vida se consagra entre os entes míticos do amor lírico e os seres reais que cumprem (quando cumprem) as funções sociais e hormonais adequadas ao que as mulheres querem !

Podia eu acreditar nisto ? Não, oh jovens crédulos, claro que não. O que elas querem dizer é que para uma relação frustrada (ou frustrante) nada melhor que um amante apaixonado, estupidamente apaixonado de preferência, que durante algum tempo comparam em cama quente, para depois contemplarem em humidos sonhos nocturnos ou no chuveiro. O amigo que me lê já sabe ao que venho, não confie numa mulher casada ou de alguma forma comprometida; elas sabem bem do que falam, porque a inversa é também verdadeira.

Moral da história: você é o maior, fica com o etéreo e a medalha, mas outro, mesmo corno, lambe os beiços.

sábado, setembro 20, 2003

Com a madrugada partem

as almas que se convocaram, com os raios de sol sobem de novo para um lugar qualquer de onde parece nunca mais ser possível regressar.

A personagem está numa cama larga onde vários passageiros do barco repousam, despida e agarrada a mim; alguem lhe diz como foi corajoso largar tudo para se entregar assim; as almas em concílio aprovam o que algumas almas enegrecidas reprovaram.

Na madrugada, antes das almas partirem, a justiça do nosso mundo está em equilíbrio e repõe a verdade na aparente confusão de um mundo alternativo e desordenado que se não seguiu, mas existe.

Depois, já os raios de sol ameaçam destruir toda a cuidadosa teia de almas, regressam os fantasmas, sem apelo para as injustiças, sem sombra de regresso. Olho os sinais, sem gente lá fora, procuro desesperadamente sinais de que a personagem não tenha largado o barco e desaparecido com o sol.

Vou procurá-la nesta cidade, depois vou para o mar; nada sei já sobre a natureza das almas.




domingo, setembro 14, 2003

Coisas perfeitas na Primavera

mas inacreditáveis no fim do Verão.

Não são saldos de almas, nem almas penadas, são salas onde se dança a virtude aliada aos fantasmas de Verão, onde uma orquestra deixa que o trompete velado atire versos para as cadeiras onde se sentam inúmeros espíritos de muitos outros Verões, passados aqui.

Eu sento-me nesta cadeira iluminada, vejo uma camara que capta imagens permanentemente, posso passar as imagens rapidamente, mesmo para lá das ruas que se perderam na memória das cidades que foram minhas.

Algumas coisas perfeitas na Primavera vivem para lá de um lugar onde um dia se parou um carro, se abriu uma porta e alguem entrou na nossa vida.

Mitos urbanos: SMS

Não chegavam os seres que emergem das caixas de esgotos, os seres que tocam nos ombros quando atravessamos uma rua, ramos de árvores que raspam as faces desprevenidas de transeuntes cansados que regressam a casa; agora temos um novo terror: as mensagens inopinadas que tocam corações descansados, as mensagens que tocam nos telemóveis, fortes, em apenas 3 ou 4 sinais sonoros que despedaçam e alvoroçam o pacato instrumento que repousa nos nossos bolsos, carteiras ou malas Louis Vuitton.

Agora, não basta telefonar. Não basta receber um toque, ring ring, atender e falar; temos as SMS perturbantes, associadas a secretas cartas de infidelidades, segredos infindáveis, como é fácil dizer coisas e tocar o outro sem ninguem dar por isso ! Ele atravessa a rua e passa-a a escrever o que não pode dizer, ela entra na casa de banho e escreve que "n posso flr agr ele tá lá fora, ligo + trd".

Mesmo que nada se esconda, a msg (6 milhões por dia) é o substituto da confissão domingueira, a rápida carta que demoraria 3 dias a chegar, quantos milhões enganam quantos milhões: ah! o pensamento voa ! mas agora fica registado; quem falou, enganou, informou, destruiu, assarapantou, mudou quem ?

Ela, que descansava na sua chaise longue, está agora a enfeitar-se pq recebeu uma msg especial, ele que sonhava, está agora a caminho de um lugar que n conhece, apenas "pq tava mmo a ver q ela m mentia, tu é q és a m qrda !"



sábado, setembro 13, 2003

A antena tocou num pelicano assustado

Tem de haver outro tempo, onde o meu avião possa pousar, outro tempo onde eu possa falar e dizer que o engenho sistémico ameaça falhar; eu paro este tempo, desço devagar, e não encontro ninguem para contar a minha história inacreditável e interminável de uma máquina viva que soluçou e tocou num pelicano, de asas de envergadura; que o pássaro fugiu confiante no ar quente que o ajudava a subir.

O meu avião vê os campos com pequenas casas azuis, aproximam-se como se o tempo não fizesse parte da sua existência e a poeira que as vai cobrir nunca viesse, ainda gira sobre si e vê o outro azul, mas já não tem sol nem nuvens, mistura-se com a poeira dos estilhaços de metal e sangue estampado em tecido riscado.

Há mesmo outro tempo.

Num dia claro, podemos ver para sempre

Ao olhar para mim, ao olhar para o vulto e para a sombra e para o retrato. Num dia claro, aparecem os imensos arrependimentos, aparecem a cara que o vento tapava com os cabelos e o vestido que o sol projectava, e o negativo preso naquele dia. Num dia claro, um dia, as vestes de sonhos esfarrapam-se em jornais, como insectos desaparecidos em vida efémera, como se ao andar ele soubesse que não o faria mais, como ao voar para longe o insecto soubesse que não haveria outro voo.

Mas no delírio das palavras arrastadas está o segredo dos momentos que tenta a poesia disfarçar, porque associa o indeciso com a música das sílabas agrafadas em tons de cinzento, para nada dizer fingindo dizer, para que outro olhe e leia o que quer ler.

Assim, num dia claro, podemos ver para sempre a mentira afirmada com um sorriso, podemos ver para sempre o que sempre sonhámos e passa a ser a nossa verdade.



quinta-feira, setembro 11, 2003

Desaparecido na Foz do Douro

Foz do Douro, 10 Set. 07.40h
Passo em corrida pelo molhe, admiro as ondas, olho os que namoram ou pescam no caminho para o farol; encanto-me com o frio da manhã e as forças que me afastaram de melancolias. Sinto-me desaparecer correndo ao longo do mar.

Foz do Douro, 11 Set. 08.00h
Passo de novo pela Foz, vejo um movimento anormal de fardas e curiosos, olhares de desespero, para o mar e para as rochas.

Porto, 11 Set. 13.00h
Leio as notícias, na net:
Desaparecidos na Foz do Douro, dois jovens, num molhe da Foz do Douro, ontem 10 de Set., pouco depois de eu ter imaginariamente desaparecido ao longo do paredão.

Pode alguem conhecer o acaso ? O acaso que a dor dos outros empurra para o absurdo.

terça-feira, setembro 09, 2003

A longa mão da memória

Para que serve a noite? porque há luz depois de ser escuro ? etc... Tenho na minha mão um hotel, um sino a tocar badaladas de noite; umas dez badaladas, tenho uma camisa azul, tenho um carro estacionado lá fora e umas chaves para sair daqui; tenho um espelho e uma poeira na borda desse espelho á espera de ser soprada; da memória; mas hesito, como se estivesse a olhar para um insecto que sem perguntar nada invade o campo aberto que é a página deste livro;tudo podia ficar assim. Mas eu vou mexer-me e a poeira vai sair deste lugar, a memória deste minuto vai-se embora, a menos que eu a escreva aqui; mas e as memórias que eu queria que ficassem aqui, coladas como poeira a este espelho? para que outros pegassem nelas e as fizessem suas, as misturassem como açúcar no líquido.

Depois, subitamente,eu podia regressar sem memória, lá no lugar onde elas se fixaram um dia.

sexta-feira, setembro 05, 2003

Priscilla

"Olá J. como está? Eu nada bem, sabe? Outra vez esta mania de espreitar o meu namorado, sei que deve ser doença, só não sei se é temporária e isso deixa-me muito ralada. Cada vez que ele não quer encontrar-se comigo penso em tudo, tudo! Que não vai para casa, como diz, ou que não vai trabalhar, como diz. Ele é arrumador de cinema no Corte Inglês e eu de vez em quando vou espreitá-lo a ver se está lá. Já vi o Matrix 46 vezes, das quais só em 15 ou 16 é que ele sabia que eu lá estava. De resto disfarçei-me como pude, até de homem já fui, com calças e cabelo debaixo de um gorro, óculos escuros. Sei que o Matrix não é para chorar, mas eu choro cada vez que eles desaparecem pelo telefone abaixo, é como se estivesse a ver o meu namorado a escapar-se para ir ter com outra. Outro dia, ele disse que ia visitar a mãe, que mora no Cacém, e eu fui atrás dele noutra carruagem do comboio, a espreitá-lo atrás da vidraça, sempre nesta ansiedade de chegar à estação e estar lá outra; mas não, quem lá estava era um tipo qualquer que lhe deu um saquinho, devia ser chá para levar à mãe. Volto sempre para casa muito triste e envergonhada, mas não consigo evitar. O que acha que eu faça? Ajude-me por favor! Sua, P."

Querida Priscilla,
O complexo de agente secreto, de que você claramente sofre, é devido ao facto de no fundo você querer ser homem e não assumir isso frontalmente ! Sei que é um choque para si, mas reparo que ao estar sempre desconfiada do seu namorado gosta mais de o ver ao longe que ao perto, isto é, pelas costas! Se está sempre á procura de outra e ela não aparece é porque você quer a companhia de outra mulher. Conselho: frequente bares G&L (gays e lésbicas), há imensos em Lisboa, vai ver que uma moça de cabelo curto e peito descaido lhe vai aparacer, mais tarde ou mais cedo. Deixe o seu namorado e deixe também de ver o Matrix; olhe veja antes o 007, tem a Halle Berry, vai adorar vê-la, para cima de 50 vezes. Dê-me novidades J.

quinta-feira, setembro 04, 2003

Danila

"J. querido" (n posso revelar para não ter problemas na revista)

Espero que me possa ajudar; o meu marido (não somos casados mesmo) parece outro; ainda anteontem, parece que foi ontem, me disse que tinha um relatório para fazer sobre os calores que tivemos há pouco (ai, que fizeste tu, meu Deus) para saber quem morreu de calor e quem não devia ter morrido se tivesse ar condicionado (acho que era isto). Apegou-se outra vez ao computador e nem jantar nem sobremesa (eu faço umas sobremesas que nem queira saber J., se quiser provar é só dizer). Fiquei outra vez a ver futebol esperei esperei e nada. Não quero maça-lo, J. ele é um malandro, pus-me a ver da frincha da porta e ele era só beijocas no computador, agarrado ás partes de dentro, a chamar a chamar, émail émail, um horror. Ajude-me J. sei que ele tem outra, deve ser francesa ou coisa assim , de restaurante de croissants, ou lá o que é."

Danila, não se martirize, onde um homem vê um mail, é uma mãe que manda um postal quem ele vê, as partes de dentro nem se mexem. Por acaso viu o ecran do computador ? Aposto que não, senão teria visto alguma paisagem do National Geographic, um cume, uma baleia, sei lá. Não deixe que o e-mail estrague a sua vida, reaja e vá com ele ver uma parada militar. Com sorte ainda apanha o Portas na formatura. Vai ver que estas coisas da internet, amores fora de horas, gente que nem se sabe quem é, estão a acabar, nem eu acredito nisto. Escreva sempre

Cantinho da Leitora

Inauguro hoje uma secção especializada, aproveitando o facto de escrever igualmente para uma conhecida revista semanal, e num roubo descarado responder aqui às cartinhas que as leitoras fiéis (quiçá algumas mesmo admiradoras, perdoem-me a imodéstia) me enviam para lá. E para cá. Enfim, de cá para lá ou de lá para cá o que interessa é reconfortar uma alma em pranto, uma dor leviana que não abandona o peito, uma tristeza funda e indizível, enfim, dizia, o que é preciso é que ninguem fique sem resposta, demore o tempo que demorar.

Tenho também um contador de cartas (manual), em inglês , letter-meter, como o site-meter aqui ao lado, estão a ver? Aliás tem um nome que em brasileiro, alguem me chamou a atenção, (e ruborizei de imediato), se podia dizer como "si te meter", uma ordinarice de que este modesto escriba jamais se lembraria.

Mas dizia que inauguro hoje esta secção porque penso que está muito mal vista e muito maltratada em muitas despudoradas revistas e jornais nacionais, que (imagine-se) inventam as leitoras e bem assim as respostas. Proponho-me ser original e inventar apenas as respostas.

E porquê este "Cantinho"? Porque não podem as leitoras que genuinamente se dirigem a mim e às tais revistas ímpias ficar misturadas com as inventadas por autodenominados "jornalistas" (pfff!).

O que é virtual tem limites, senhoras !

Vou ainda hoje, se sair a tempo da redacção da revista (onde escrevo isto á sucapa), responder a uma amiguinha que foi, pasme-se, enganada por e-mail (ela diz émail, mas eu depois conto).

Onde o Mar acaba e a Terra começa

Nesse ponto, que como ponto imaginário tanto pode ser na proa ou na popa, ou numa ponta qualquer do cais, dá-se um fenómeno estranho. Só quem navega longas horas se apercebe dele, e com mais espanto ainda porquanto ele se verifica com sol escaldante, nevoeiro tenebroso ou frio de rachar, ou qualquer outro estado de tempo por etéreo ou claro que se apresente. Esse fenómeno começa com um salivar do marinheiro, uma cócega estomacal, e culmina numa necessidade urgente de correr para uma cerveja ou mesmo um retemperador whisky.

O vosso dedicado PiPo, um velho e empedernido lobo do mar, em tempos contactou clínicos de nomeada, práticos famosos, duendes da medicina, mas nada foi possível apurar. Algumas teorias vagas sobre o sal e a abundância de água à volta do marinheiro não chegam para uma explicação convincente.

Resta-me Neptuno, mas não o tenho visto.

quarta-feira, setembro 03, 2003

A nova tropa do esquerda - direita

agora on-line. Desde que um tipo resolveu associar a ideia da esquerda (sinistra em italiano) e direita (destra em italiano) às convicções políticas, que as conversas, tiros e guerras se fazem tentando associar a uma e outra as causas e consequencias de tudo. Até ao momento em que era claro que a esquerda (a mão onde tenho mais força) se associava a ideias politicas claras e a direita se associava à quase completa ausência delas, a não ser por contraponto e reacção (daí o reaccionário e léxico associado) as coisas corriam bem e sabias-se em quem se batia.

Mas agora, senhoras e senhores o caso é diferente, a esquerda anuncia-se de vários lados, a direita é popular outra vez, as conversas sobre a crise da esquerda enchem páginas ( notícia de ULTIMA HORA: a direita nunca esteve em crise !) e lágrimas de crocodilo correm pelas festas lamentosas dos "verdadeiros" representantes da esquerda: os que dizem "não é por acaso que..." ou "o que está por detrás disto ?".

Mas quem são os de direita anunciada ? Muitos dos que escrevem coisas inteligentes, muitos dos que não passaram as crises sociais de 74 e seguintes, intitulam-se de "direita", isto é, os que lutam contra a ignorância, os que pensam pela sua cabeça, estão cada vez mais do lado explícito (que raio de ideia) da Direita! Nah! não me convencem disso.

A culpa, claro, é da esquerda, que brama contra os "americanos" como se descobrisse o à vontade que a direita também tinha contra os "russos", sem bases muito firmes a não ser as intervenções desastrosas da "velha senhora" contra os países da "cortina". É uma vingança que os velhos esquerdistas não podiam deixar de fazer ! Compreende-se bem.

mas o que interessa para esta conversa da esquerda direita é que a esquerda está recheada de boa gente que se intitula de "direita" por reacção contra a falta de imaginação desta e os compromissos antigos de que teima em não se desfazer.

O caso não é simples mas não há por aí uma malta que ache que se pode juntar com a "direita" chateada com a esquerda ortodoxa e envelhecida?

e falar alto contra a direita do poder, que é tão fraquinha encabeçada pelo fraquissimo Barroso ?

Abaixo a esquerda - sinistra, por uma esquerda destra e descomplexada