sábado, dezembro 27, 2003

O momento longo de um nevoeiro

Neste preciso momento em que o nevoeiro esconde os gritos da gaivota, os fantasmas do rio regressam, frios como de lei, embora um pouco assustados porque em qualquer momento a claridade que ameaça lá em cima pode desabar e o momento longo explodir. O momento longo de um nevoeiro, como se fossem os ultimos dias de um ano, esses dias depois dos doces e antes da frenética noite de diversãoo encomendada, esses dias em que tudo parece mais vagaroso, em que os dias são todos iguais e a memória tem dificuldade em contar os dois ultimos, nomear os dias da semana, ou sequer pensar no futuro, o que é perigoso, porque dessa lentidãoo pode surgir a explosão de uma claridade, e a loucura antecipada, mas adiada sempre, revelar a sua face branca.
Como se de um recipiente cheio de leite surgissem de repente dois olhos com pestanas molhadas, e boca esbranquiçada, exangue.




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