sexta-feira, janeiro 30, 2004

Acertar o passo, devagar

Surgiu-me há menos de 24h esta vontade compulsiva de caminhar por museus. Devo provávelmente esta ansiedade às visitas feitas há pouco dias, em tempo livre, mas nem sequer era uma novidade. Caminhar por um museu, em passo curto, parando, inclinando a cabeça para ver o cartão com os dados da obra, dando uns passos atrás, mexendo no queixo, coçando a cabeça, cruzando os braços, acenando afirmativamente como em gesto de aprovação íntima, ou abanando ligeiramente a cabeça, talvez uma duvida, uma rejeição súbita, ou ainda olhando para cima, como quem recorda, onde já viu, quem lhe faz lembrar, que pormenor aqui, que traço largo ali, que descoberta acolá.
No passo certo de um museu, acerta-se sem querer com alguém que tem um passo semelhante, como quem está num escaparate de uma livraria e lê os títulos em diagonal enquanto se desloca para o lado. De repente dá-se por isso e sem se saber como está sempre a mesma pessoa a olhar para o quadro anterior, ou o seguinte, talvez porque deu por isso e não quer essa sintonia, parece mal, ou talvez apenas se tenha lembrado do que vai fazer quando sair dali, ou mesmo se interrogue porque entrou ali; e entrando, ficará lá sempre um bocado mais, porque os quadros se sucedem e alguns fazem pensar, como na música, que faz sonhar ou zangar. No passo certo de sair daquela ala e entrar noutra e ainda nessa se encontrar a mesma pessoa. Repetindo a experiência, pode casualmente voltar a acontecer numa mesma visita, ou talvez não aconteça.

Não se pode dizer nada, apenas sorrir.






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