sexta-feira, abril 16, 2004

mobile, imobile, mobile, imobile


O meu telemóvel andou intrigado toda a tarde, andou calado, cabisbaixo e triste.

Não havia ondas, não havia feixes, não apitou, não tocou, não vibrou, não emocionou, não entristeceu, não ficou eufórico por saber que outro, que ele suspeita tão assexuado como ele, mas com tendência para feminino (um Nokia, uma Nokia, nunca lhe soaram bem) lhe liga de vez em quando (Ligado a si, diz a publicidade...)

O meu Telemóvel é o responsável pelas olheiras, pelas faltas de apetite, pelas ilusões, pelas desilusões, pelo encanto e pelo desencanto, pelo alto e pelo baixo, pelas desistências e pelas insistências, e persistências.

Assim triste se confessou numa tarde de sábado que avançou por uma manhã de domingo, onde as gaivotas indiferentes aos dramas e paixões se divertem a rir e brincar com os desprevenidos peixes.

Ar, mar, vento, sempre existirão. Ele toca até que eu deixe, segue-me como um cãozinho; morrerá primeiro que eu, eventualmente, guarda segredos atirados para o espaço negro, às vezes para uma Lua triste que aparece no meio das nuvens negras; apago-lhe as letras vindas de outrém, e ele não protesta; sabe que é para sofreremos todos muito que nascemos, e que andamos à procura de quem nos toque com emoção, de quem precise de nós como nós precisamos.

Assim na terra, reservemos um lugar no céu.