sábado, maio 08, 2004

Raros são os dias (I)

Passeio do Tejo

Silencio. Pode ser um ser que se aproxima em silencio, ou o silencio desta casa, onde as notas de chuva consolam meias plantas sobreviventes de um Verão. Um Verão com silêncios, toalhas sobre a mesa na varanda, sumos de laranja. Silêncio, como o medo. Vindo de um profundo vazio estou com medo. Cada ano passa menos gente por aqui, cada ano passa alguém que não quer passar para outro ano. Cada ano a sensação de paz com um pouco de tristeza. Agora é o medo.
Começou ali naquele ponto onde as gaivotas poisam de manhã muito cedo, onde por mais devagar que vá elas não me apoiam no cumprimento. Uma coisa estava lá á minha espera na balaustrada que tremia agitada pelo vento. Apoiei-me ao ferro, senti vento quente onde devia ser frio, e instalou-se o medo. Fechei os olhos para não ter medo, como se estivesse de novo na cama, tivesse de novo 7 anos e muito medo, e puxasse os lençóis para a cabeça, todo tapado e com frio e medo dos monstros ou coisas. Aqui não consegui. O medo chegou-se ali e tomou posse.

Antes que pudesse pensar porque tinha medo, antes mesmo que pudesse ver porque tinha medo, mesmo em qualquer ponto do tempo que podiam ser segundos, viu uma espécie de peixe sorridente que abria umas goelas gigantescas e sentiu de novo o calor subir pelas costas e tapá-lo de medo.