Histórias de fantasmas
Voltar.
Nesses dias em que as casas têm vida, como na casa de uma avó em que aos domingos se juntam os perdidos de si, os que já perderam tudo o que havia para perder, como a vida que se dilui entre os cigarros que a senhora de 90 anos consome e a certeza de que ali naquele espaço de móveis fortes e sorridentes haverá espaços sem nada, um dia. Uma espécie de vingança da manipulação: abrir, fechar, tirar, pôr. Olhar para a madeira.
Voltar.
Nesses dias em que os ossos se cansaram e atiram culpas para cima de quem, como num sonho, passa do perigo do voo ao cinema, entre esplanadas e cervejas.
Voltar
um dia e onde outros riram e se sentaram e talvez até se tenham sentido bem, ou talvez não tenham sentido nada, ou mesmo possam ter sentido que aqueles risos e palavras se iriam perder num azul qualquer que ninguem soube ou sabe nomear.
Voltar
não é dificil, a menos que se saiba há muito que se vai voltar e não se vai encontrar nada do que estava antes. Não que tudo alguma vez possa ser como antes, mas apenas como parece que é. Ou talvez pareça que é outra vez, mas mudando devagarinho.
Mas ao voltar
sabendo de antemão que não se vai encontrar nada e se pensou isso durante muito tempo, tanto tempo que partir pareceu um acto simples mas era só um acto íntimo que não deixa os objectos sossegados sequer. Mas ao voltar ao que já se sabe mas não se viu, transformando numa certeza o que se antevira, mas não de todo se vira, como a surpresa de adivinhar o que já parecia certo.
Voltar
Hoje, ou outro dia tanto faz, voltar a ser um corpo lembrando tudo outra vez, mas com um eco de objectos ausentes.
Nesses dias em que as casas têm vida, como na casa de uma avó em que aos domingos se juntam os perdidos de si, os que já perderam tudo o que havia para perder, como a vida que se dilui entre os cigarros que a senhora de 90 anos consome e a certeza de que ali naquele espaço de móveis fortes e sorridentes haverá espaços sem nada, um dia. Uma espécie de vingança da manipulação: abrir, fechar, tirar, pôr. Olhar para a madeira.
Voltar.
Nesses dias em que os ossos se cansaram e atiram culpas para cima de quem, como num sonho, passa do perigo do voo ao cinema, entre esplanadas e cervejas.
Voltar
um dia e onde outros riram e se sentaram e talvez até se tenham sentido bem, ou talvez não tenham sentido nada, ou mesmo possam ter sentido que aqueles risos e palavras se iriam perder num azul qualquer que ninguem soube ou sabe nomear.
Voltar
não é dificil, a menos que se saiba há muito que se vai voltar e não se vai encontrar nada do que estava antes. Não que tudo alguma vez possa ser como antes, mas apenas como parece que é. Ou talvez pareça que é outra vez, mas mudando devagarinho.
Mas ao voltar
sabendo de antemão que não se vai encontrar nada e se pensou isso durante muito tempo, tanto tempo que partir pareceu um acto simples mas era só um acto íntimo que não deixa os objectos sossegados sequer. Mas ao voltar ao que já se sabe mas não se viu, transformando numa certeza o que se antevira, mas não de todo se vira, como a surpresa de adivinhar o que já parecia certo.
Voltar
Hoje, ou outro dia tanto faz, voltar a ser um corpo lembrando tudo outra vez, mas com um eco de objectos ausentes.
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