Raros são os dias (III)
Paris
16h Com estas ideias não acabou a sanduíche, pagou, pegou no sobretudo azul e saiu, de novo com angustias desnecessárias, estava a estragar aquele tempo tão livre outra vez com a obsessiva história do filme! Raios!
Veio de novo para o frio, andou depressa no sentido da Torre, e passou o Sena na ponte Alexander, onde as estátuas de bronze douradas ainda reflectiam um pouco de sol que restava a Paris, sentiu-se outra vez melhor, apeteceu-lhe comprar bombons, mas não, seguiu decidido a passar pela Torre, olhá-la pela primeira vez depois de tudo o que acontecera com as outras Torres.
Parou, sentou-se num banco e olhou a figura imponente daquele ferro que se erguia desde há mais de um século, desafiante, intrusivo, indiferente aos japoneses, indiferente aos males do século, indiferente e pouco ralado com a princesa que viu morrer ali mesmo ao pé de si, indiferente aos barcos cheios de gente que olhava especada para si e para as margens do Sena, tudo á espera de captar uma coisa qualquer de Paris, um sinal dos românticos, um aceno de alguém subitamente aparecido e conhecido, um artista americano? Uma movie star de passagem por ali, um primo de Viana do Castelo?
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