sexta-feira, maio 28, 2004

Tristar - para lá



Quando estava farto de estar sentado, caminhava até ao sorriso antipático das semi-tias da TAP e encontrava na fila da frente este postal. Neste avião comecei as viagens entre continentes, e aqui começa a história das viagens de África.

Começavam entre filas de gente, horas de espera, embrulhos em montes infindáveis. Depois, dada a angústia de partir "para lá", sentava-me nas cadeiras amarelas e pegava no livro de viagem. Não lia, mas folheava e antecipava as horas, enquanto olhava para os parceiros de viagem; tentava ver ansiedade, alegria, tristezas, e invejava os sorrisos que pareciam muitos.
Eu tinha pensamentos terríveis, das toneladas a levantar voo, tomava um dormicun com 2 whiskies, e esperava mais umas horas. Punha o walkman a jeito, punha Bach para acompanhar a descolagem, e aí tinha o primeiro momento de aventura: os 3 minutos acompanhados pelos Concertos Brandeburgueses e pelo tremor da bagageiras e dos embrulhos a cair.

passava o jantar da meia-noite, pegava no livro e á 3ª página começavam as pessoas do lado a confundir-se com o sono. Sempre achei tranquilo o momento da descolagem. Calados, os passageiros pareciam poucos no avião gigantesco, o wide body, nome simpatico para aquele prédio ambulante.

No ar dormia aos soluços enquanto Bach e o comprimido faziam o resto. As trovoadas passavam a estar entre a minha cara multidimensional reflectida nas camadas de espelho-plástico e o solo.