terça-feira, setembro 09, 2003

A longa mão da memória

Para que serve a noite? porque há luz depois de ser escuro ? etc... Tenho na minha mão um hotel, um sino a tocar badaladas de noite; umas dez badaladas, tenho uma camisa azul, tenho um carro estacionado lá fora e umas chaves para sair daqui; tenho um espelho e uma poeira na borda desse espelho á espera de ser soprada; da memória; mas hesito, como se estivesse a olhar para um insecto que sem perguntar nada invade o campo aberto que é a página deste livro;tudo podia ficar assim. Mas eu vou mexer-me e a poeira vai sair deste lugar, a memória deste minuto vai-se embora, a menos que eu a escreva aqui; mas e as memórias que eu queria que ficassem aqui, coladas como poeira a este espelho? para que outros pegassem nelas e as fizessem suas, as misturassem como açúcar no líquido.

Depois, subitamente,eu podia regressar sem memória, lá no lugar onde elas se fixaram um dia.