quarta-feira, junho 09, 2004

Raros são os dias (X)

Lisboa


Uma depressão, se calhar depois ela tinha uma depressão, e ele tinha de voltar a vê-la, se não fosse aí seria talvez por acaso. O acaso que no desespero dos dias sem ninguem para falar o levara a mudar tudo para casa dela, depois de ver a praia, depois de ter bebido muito, depois de ter visto seres de mão dada, depois de ter desesperado das mulheres que o queriam e que ele desprezava. O menor dos males, não queria viver sozinho, queria uma casa, uma mulher, queria ter um filho!
Desceu depressa para a garagem, tinha de ir depressa para as Laranjeiras, ela esperava, era um dia decidido há muito, arrancou, desesperou com os carros que impediam uma saída rápida, entrou no trânsito da cidade como quem enfrenta a última aula do ano, com os alunos impacientes, ele impaciente mas com um brilho e uma coragem de festa de sentidos, alerta, sempre com um sorriso.



18.00h. Ligou as luzes do carro, enquanto olhava para o semáforo vermelho. Conseguia imaginá-la dentro de casa, a inventar sítios para colocar as coisas, a fazer planos para os domingos â tarde, para estarem os dois. Contar-lhe tudo, isso agora era o mais importante, contar-lhe que ficariam livres para os dias como quisessem, deixar de vez o vaivem para Luanda.