domingo, setembro 14, 2003

Mitos urbanos: SMS

Não chegavam os seres que emergem das caixas de esgotos, os seres que tocam nos ombros quando atravessamos uma rua, ramos de árvores que raspam as faces desprevenidas de transeuntes cansados que regressam a casa; agora temos um novo terror: as mensagens inopinadas que tocam corações descansados, as mensagens que tocam nos telemóveis, fortes, em apenas 3 ou 4 sinais sonoros que despedaçam e alvoroçam o pacato instrumento que repousa nos nossos bolsos, carteiras ou malas Louis Vuitton.

Agora, não basta telefonar. Não basta receber um toque, ring ring, atender e falar; temos as SMS perturbantes, associadas a secretas cartas de infidelidades, segredos infindáveis, como é fácil dizer coisas e tocar o outro sem ninguem dar por isso ! Ele atravessa a rua e passa-a a escrever o que não pode dizer, ela entra na casa de banho e escreve que "n posso flr agr ele tá lá fora, ligo + trd".

Mesmo que nada se esconda, a msg (6 milhões por dia) é o substituto da confissão domingueira, a rápida carta que demoraria 3 dias a chegar, quantos milhões enganam quantos milhões: ah! o pensamento voa ! mas agora fica registado; quem falou, enganou, informou, destruiu, assarapantou, mudou quem ?

Ela, que descansava na sua chaise longue, está agora a enfeitar-se pq recebeu uma msg especial, ele que sonhava, está agora a caminho de um lugar que n conhece, apenas "pq tava mmo a ver q ela m mentia, tu é q és a m qrda !"